O design tecnológico como prática: um olhar para além do instrumentalismo artefactual e da agência meramente humana

Authors

Keywords:

Tecnologia. Prática. Virtudes. Ética. Agência Moral.

Abstract

O artigo parte da tese de que a criação ou design tecnológico não deve ser vista como uma atividade inteiramente determinada por critérios internos ao desenvolvimento dos artefatos, como se estes pudessem ter somente uma única e mesma forma e função, dependendo apenas de suas propriedades materiais. Como qualquer outra prática humana socialmente estabelecida, a criação ou o design tecnológico é uma ação humana e, como tal, sujeita a avaliações morais e políticas. Para esse propósito, adotamos a perspectiva neoaristotélica de Alasdair MacIntyre e seu conceito de prática, em que a dimensão normativa das práticas não é um dado exterior a elas aplicado, mas constitutivamente interno a partir de um telos que as define como partes ou formas de realização da excelência humana. Nesse sentido, o design tecnológico não é axiologicamente neutro, mas ontologicamente relacionado às determinações sociais e políticas vinculadas às ações humanas e suas diversas possibilidades de dever ser material e simbólico. Assim, é uma prática social portadora de fins e valores internos e externos a ela, no sentido macintyriano, não se compreendendo fora do tecido social do qual faz parte, portanto, carregando consigo elementos éticos e políticos constitutivos que, desconsiderados de sua constituição, obliteram a natureza complexa da tecnologia e suas implicações morais e políticas, desumanizando-a em sua totalidade.

Author Biography

Helder Buenos Aires de Carvalho, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Full Professor, Philosophy Department/UFPI. Researcher PQ2/CNPq. Professor in the Graduate Program of Philosophy, UFPI. PhD in Philosophy (UFMG, 2004), with a doctoral internship at Boston College (2001). Postdoctoral Research in PUCRS (2010) and UFMG (2018).

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Published

2024-12-31

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Artigos