A indignação política e a indignação epistêmica: convergências e diferenças
Palavras-chave:
indignação epistêmica. protestos sociais. conhecimento. emoção. direito.Resumo
Este artigo busca compreender a indignação dos protestos políticos ocorridos em várias partes do mundo entre 2011-2013, em sua base analítica e política, com suas características, objetivos, e sua relação com a teoria crítica e com o direito, e como ela se aproxima ou se distancia da indignação encontrada nos pesquisadores da academia que investigam temas jurídicos afins. Em um propósito mais amplo, busca refletir sobre a influência ou papel que a indignação exerce no processo de construção do conhecimento sobre os direitos dos grupos minoritários e/ou pessoas com cidadanias fragilizadas. Para isso, utiliza-se o referencial teórico sociojurídico de Boaventura de Sousa Santos sobre a indignação, bem como o das epistemologias do Sul, e suas aproximações e diferenças teóricas e metodológicas à indignação epistêmica. Seriam as diferenças substanciais? Os ambientes em que se manifestam as indignações políticas e epistêmicas trazem alguma influência sobre os manifestantes políticos e os pesquisadores? E como canalizam suas indignações para as instituições e para o direito? A diferença está em conceitos diferenciados que cada grupo possa ter sobre a indignação, ou no modo como ela é expressada nas manifestações políticas e na academia? Para o modelo de ciência atual, a indignação epistêmica estaria presente em toda a construção do conhecimento sobre o direito das minorias, ou seria identificada apenas como um pré-conhecimento reconhecido pelas Epistemologias do Sul? Sem pretensão de esgotar as respostas nessas reflexões preliminares, o trabalho divide-se em três partes: na primeira, procura-se identificar as características da indignação política nos protestos e sua repercussão na indignação epistêmica; na segunda, há uma breve reflexão sobre a relação das revoltas de indignação e da indignação epistêmica com a teoria crítica e o direito; e, na terceira, busca-se uma aproximação da indignação epistêmica a uma convergência de sentidos com as Epistemologias do Sul. Dentre as conclusões alcançadas, compreende-se que quando a indignação chega à academia, parece estar relacionada tanto aos processos e práticas políticas e jurídico-institucionais que envolvem os grupos minoritários, quanto à aparente incapacidade do pesquisador em traduzir esses processos em conhecimentos válidos, e com potencial transformador da realidade dos sujeitos investigados.Referências
CHOMSKY, Noam (Org.). Indignados. Madrid: Bolas de Cristal, 2012.
DUSSEL, Enrique. Carta a los Indignados. México: La Jornada Ediciones, 2011.
ENGELMANN,Wilson; WUNSCH, Guilherme. Repensando uma visão (não) individualista da pessoa no panorama da compreensão dos direitos humanos e a perspectiva autopoiética de educação: uma proposta a partir da leitura de Humberto Maturana. Nomos, v.38, n.2, 2018. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/nomos/article/view/39895/95998 Acesso em: 06 jun. 2019.
ESCOBAR, Arturo. “Actores, redes e novos produtores de conhecimento: os movimentos sociais e a transição paradigmática nas ciências”. In: Conhecimento Prudente para uma vida decente: um discurso sobre as ciências revisitado. Boaventura de Sousa Santos (Org.). Porto: Ed. Afrontamento, 2003, p.608.
GOMES, Luiz Flávio. Por que estamos indignados?: das barbáries dos poderes à esperança de civilização, justiça social e democracia digital. SP: Saraiva, 2013. Coleção Saberes Críticos.
HESSEL, Stéphane. Indignez-vous!.Paris: Éditions de Paris, 2011.
_______ O Poder da crítica. Minho: Livraria Pretexto e Ed. Pedago, 2006.
_______ An Inquiry into modes of existence: an antropology of the Moderns.
Cambridge: Harvard University Press, 2013.
LOCKE, Terry. Critical Discourse Analysis. London: Continumm, 2004.
NAIR, Harikrishnan Gopinathan.Unsettling european epistemologies mapping the contours of paradigms from the south. Nomos, v.38, n.2, 2018. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/nomos/article/view/39895/95998 Acesso em: 06 jun. 2019.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Room for manoeuver: paradox, program or Pandora´s box?. Coimbra: CES/Oficina do CES, Nº9, Fev 1989.
______Um discurso sobre as ciências. 8a. Edição. Porto: Afrontamento, 1996.
______“Towards a socio-legal theory of indignation”. In: Law´s ethical, global, and theoretical contexts: essays in honor of William Twining. Edited by Upendra Baxi, Christopher McCrudden, and Abdul Paliwala. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.
______ Revueltas de indignación y otras conversas. Coimbra: CES/Alice, 2015.
______ Na Oficina do Sociólogo: aulas de 2011-2016. Seleção, revisão e edição Maria Paula Menezes e Carolina Peixoto. SP: Cortez Ed., 2018.
______ O Fim do Império Cognitivo. Coimbra: Almedina, 2018.
SHARP, Gene. From Dictatorship to Democracy: a conceptual framework for liberation. Wales: Housmans Bookshop, 2011.
SPINOZA, Baruch de. Tratado Político. Tradução, introdução e notas de Diogo Pires Aurélio, revisão de Homero Santiago. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p.30.
ZEGADA, Maria Teresa, “Una revolución del sentido común”. In: SANTOS, Boaventura de Sousa(Org.). Revueltas de indignación y otras conversas. La Paz: Proyeto Alice/Stigma, 2015.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à Revista NOMOS o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
- Autores são responsáveis pelo conteúdo constante no manuscrito publicado na revista.