ASPECTOS LINGUÍSTICOS E SOCIOCULTURAIS DA UNIDADE LEXICAL 'CAFONE' NA OBRA LITERÁRIA FONTAMARA, DE IGNAZIO SILONE

Abstract

A palavra 'cafone' ocorre 148 vezes no texto da obra literária Fontamara, do escritor italiano Ignazio Silone. O número de ocorrências evidencia a relevância do papel que aquela unidade linguística desempenha na construção dos sentidos do texto. Este trabalho apresenta as considerações oriundas de uma leitura que se propunha a identificar e a compreender os aspectos linguísticos e socioculturais daquela palavra. Com base nos preceitos teórico-metodológicos da Lexicologia (BIDERMAN, 2001; POLGUÈRE, 2018), constituímos um corpus lexicográfico com 8 dicionários/vocabulários da língua italiana (CORRIERE DELLA SERA; DE MAURO; DEVOTO, OLI; GARZANTI; LA REPUBBLICA; TRECCANI; ZINGARELLI), nos quais filtramos as definições daquela palavra a partir de uma perspectiva que a considera uma unidade da língua geral. Nessa empreitada, identificamos que, para aquela unidade lexical, os verbetes das obras do corpus trazem enunciados lexicográficos que apontam tanto uma definição desprovida de avaliação pejorativa ('contadino') quanto definições providas de avaliação pejorativa ('rozzo', 'maleducato', 'ignorante', 'villano', 'cattivo gusto' etc.). Com base nas premissas da Semântica de Contextos e Cenários (FERRAREZI JR., 2018) e com o apoio de outras vozes (RIZZI, 2018; ACCADEMIA DELLA CRUSCA, 2022), realizamos uma leitura dos sentidos socioculturais da unidade lexical em tela. A análise aponta para uma compreensão daquela unidade lexical como um nome cuja função é designar uma entidade da realidade ao qual os sentidos, no contexto de produção da obra, são atribuídos a partir de concepções de mundo diferentes e antagônicas: a do próprio homem 'cafone' e a do homem não 'cafone'. Concluímos que 'cafone' é uma unidade lexical cujas definições podem ou não coincidir com os sentidos socioculturais daquela comunidade linguística, os quais variarão conforme a posição ideológica e social de cada sujeito, constituindo-se, desse modo, como um documento de um processo histórico e cultural.