Escurecendo os fatos:
feminicídio e mulher negra, angustias de irmãs, mães e filhas
Resumo
Investigamos a representação do feminicídio na literatura negro-brasileira, com ênfase na crônica negra-feminista, tomando-se por exemplar a narrativa “Poderosas”, autoria de Ana Carolina Oliveira dos Santos, na coletânea Negras Crônicas: escurecendo os fatos (2019). A crônica escolhida evoca o processo criativo e reflexivo da narradora-protagonista, mulher e negra em busca de uma estória positiva, mas, que se depara com um caso de assassinato. Para alicerçar esta análise, recorremos as proposições de Russel (2011) e Vergès (2020), relativa aos crimes contra a mulher; às especificidades da literatura e do gênero em foco (CANDIDO, 2003; CUTI, 2010); e aos pressupostos teórico-críticos feministas e decoloniais, em exposições de Akotirene (2019); Kilomba (2019); Hooks (2006;2019) e Maldonado-Torres (2018). Como resultado, identificamos que a crônica denuncia o feminicídio, de forma não naturalizada, e alerta para a importância da instrução sobre esse crime, bem como de não romantizar as violências. A narrativa de Santos, representa, uma coletividade de mulheres (irmãs, mães e filhas) vulneráveis às diversas violências de uma sociedade em desarranjo. Portanto, abre espaço a valorização da vítima e ao incentivo da denúncia por parte das mulheres. Trata-se, assim, de reconhecer algumas das principais questões refratadas na produção de autoria feminina negra no Brasil.