De Lisboa ao Sertão
os limiares da verdade e da ficção em História do cerco de Lisboa e Grande Sertão: Veredas
Abstract
Quais os limites entre a memória e o esquecimento? Sabemos que o passado pertence à memória, mas a memória é um labirinto no qual nos perdemos quando tateamos na escuridão de lembranças recônditas ou longínquas e, desta forma, como confiar na memória, seja ela pessoal ou coletiva? Segundo Paul Ricoeur (2010), um discurso sobre o passado é sempre mediado pela narratividade, uma vez que o historiador não pode penetrar completamente nas brumas das efemérides pretéritas. Para problematizarmos esse questionamento, propomos um diálogo entre História do cerco de Lisboa (1989) e Grande Sertão: Veredas (1956), porque tanto Raimundo Silva quanto Riobaldo Tatarana percebem que reconstruir imagens do passado é produzir um discurso no qual a imaginação, a memória e o esquecimento estão imbricados de tal forma que é impossível separá-los. Tendo em vista a problemática exposta, a presente pesquisa se propõe a analisar o entrecruzamento da história e da ficção nos supracitados romances de José Saramago e de João Guimarães Rosa, pois interpretamos que nessas obras os conceitos de história e de ficção são postos em discussão a partir de uma aproximação teórica.