Além da pilha de corpos
Mulheres Empilhadas, xamanismo, etnocídio e feminicídio
Résumé
Em uma abordagem socioantropológica, este artigo propõe analisar o romance de Patrícia Melo, Mulheres Empilhadas (2019) por meio de três eixos: o trabalho da escritura entre o arquivo e o documento, a realidade e a ficção; a relação entre colonialismo, gênero, violência e xamanismo; e as noções de etnocídio, feminicídio e femigenocídio e partir da imagética do “empilhar” que estrutura o livro. Para tanto são mobilizados referenciais teóricos sobre o trabalho de arquivo de influência benjaminiana, discussões antropológicas sobre xamanismo e colonialismo e enquadramentos conceituais sobre feminicídio e etnocídio. Considera-se que os capítulos que descrevem as experiências da protagonista com ayahuasca não podem ser lidos apenas na chave do onírico, simbólico ou alucinógeno, mas são instanciações do contato cosmopolítico com universos ameríndios, contato que traz a marca da experiência colonial, das quais derivam a possibilidade da cura e das contra-narrativas ante a violência de gênero.