“ENTRE O CÉU E A TERRA”: LINHAS BARROCAS EM METAL ROSICLER, DE CECÍLIA MEIRELES
Résumé
O objetivo deste artigo é analisar as nuances da estética barroca em Metal Rosicler (1973), de Cecília Meireles. Sendo um livro composto por 51 poemas, apenas os de número “19” e “30” são de fato analisados, em razão de serem esses os que mais revelam as linhas barrocas que caracterizam a referida obra. Apesar de haver outros elementos nesse estranho e familiar “metal”, tecido pela poeta e de natureza predominantemente modernista, tal caracterização está atravessada pelo tema da morte; pela angústia lírica diante da efemeridade da vida; pelas tensões opostas entre as coisas do céu e as da terra; e, ainda, pelo desespero, em razão da fragilidade humana. Essas mesmas marcas, segundo Afrânio Coutinho (1990), participam da caracterização da estética barroca, bem como da modalidade de vida de nome análogo. Nem mesmo a predominância da estética simbolista, cuja influência sobre a obra de nossa autora é mais relevante do que as outras tendências da tradição, consegue neutralizar esses elementos característicos do barroco. Para além de tudo isso, o Modernismo, pelo menos o de Cecília Meireles, parece ser interessante, principalmente porque enlaça de uma só vez o passado de nossa tradição poética: brasileira e, inevitavelmente, portuguesa. Isso alimenta uma discussão interessante acerca do conceito de “contemporâneo” em Giorgio Agamben (2009).Références
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009.
BERGE, Damião. O logos heraclítico: introdução ao estudo dos fragmentos. Rio de Janeiro: Instituto nacional do livro, 1969.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil (15ª ed.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
HERÁCLITO. Die fragmente der vorsokratiker. Diels, H., Kranz, W. (Eds.). 6th. Edn., Berlin, 1951.
MEIRELES, Cecília. Poesias completas (vol. 4). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
SÓFOCLES. As Traquínias. Tradução de Flávio Ribeiro de Oliveira. São Paulo: Editora Unicamp, 2009.
____. Filoctetes. Tradução de José Ribeiro Ferreira, 3ª edição. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.