A Poética do assombro
As mulheres em contos de Poe
Resumo
Este artigo pretende, por meio de uma leitura do texto crítico “A filosofia da composição” de Edgar Allan Poe (1809-1849), analisar três contos deste autor, nos quais as personagens femininas são componentes fulcrais da história e da trama. Os contos analisados são “Berenice”, “Ligeia” e “Morella”. Almeja-se, também, considerar, à luz do texto teórico, o modo como Poe compôs essas obras. Além de, é claro, investigar a poética do autor e a maneira como as personagens femininas aparecerem inseridas nela. Nas palavras de Baudelaire (1999, p. 16): “E suas mulheres, todas luminosas e doentes, morrendo de doenças estranhas e falando com uma voz que parece uma música, são ele ainda; ou pelo menos [...] participam fortemente da natureza de seu criador.” Observa-se, assim, a maestria do autor americano ao construir suas narrativas breves. Edgar Allan Poe, por meio do pleno domínio de suas proposições teóricas, faz de seus contos um laboratório para a experimentação de novas técnicas e para a construção de efeitos de sentido. Ademais, frisa-se a reiteração dos recursos preferidos do autor, como a repetição, as epígrafes retomadas no interior da narrativa por meio de diálogos e digressões narrativas bem como a simbologia de nomes. O autor tece detalhadamente os contos estudados; ele enlaça as personagens num enredo cuidadosamente construído, fazendo com que esses seres de papel, poliédricos e especulares, possam ser lidos como facetas do próprio artífice atormentado.