Uma tradição política e intelectual, particularmente negra

movimentos negros e os impulsos criativos do pensamento social afro-brasileiro na Ditadura Militar (1970-1980)

Résumé

O presente trabalho visa refletir sobre o protagonismo político-intelectual afro-brasileiro entre as décadas de 1970 e 1980, em meio ao período histórico da “abertura” política do regime militar brasileiro instaurado em 1964. Trata-se, especificamente, do processo de ressurgimento dos movimentos negros na esfera pública brasileira e da específica autonomização dos movimentos de mulheres negras, durante o período supracitado. Busca-se refletir, conjuntamente, sobre a produção de conhecimento acerca da realidade brasileira impulsionada por intelectuais e ativistas, negras e negros, diretamente ligados ou, no mínimo, influenciados pelas práxis dos movimentos negros e de mulheres negras entre as décadas de 1970 e 1980. Atendo-se ao seu específico recorte temático, o presente trabalho tem em vista apresentar e refletir, criticamente, a respeito de algumas das principais características gerais de tal fortuna crítica afro-brasileira e, especialmente, dos matizes presentes nas variadas contribuições de intelectuais negras e negros como Abdias Nascimento, Beatriz Nascimento, Clóvis Moura e Lélia Gonzalez. Mediante apresentação esquemática dos impulsos criativos do pensamento social afro-brasileiro do período, conclui-se que a gênese de uma perspectiva crítico-estrutural acerca do racismo à brasileira e a afirmação dos lócus enunciadores negros e de mulheres negras, com base na construção política de uma identidade afro-brasileira, configuram os mais importantes legados epistêmicos dos impulsos criativos da fortuna crítica do pensamento social afro-brasileiro historicamente acumulada entre as décadas de 1970 e 1980. A relevância do presente estudo reside em sua contribuição a diversidade epistêmica nas agendas de pesquisa voltadas para o pensamento social e político brasileiro.