Reflexões sobre o imperativo do gozo e a mercadorização da cultura
DOI:
https://doi.org/10.19094/contextus.v16i3.33946Palavras-chave:
Imperativo do Gozo, Ideologia, Mercadorização, Cultura Popular, Carnaval.Resumo
Partindo do pensamento žižekiano e tendo em mente o contexto da sociedade pós-industrial contemporânea, este artigo tem por objetivo discutir a relação entre a ideologia do imperativo do gozo vigente e o crescente processo de mercadorização da cultura em nossa época. Abordamos o caso particular do Carnaval do Recife como recurso ilustrativo para a condução de nossa reflexão. A instrumentalização da cultura como um recurso a ser aplicado para alcançar o crescimento econômico e sociopolítico estabelece os parâmetros de como as festas populares devem ser realizadas e fruídas. As festas são concebidas, planejadas, e preparadas dentro do horizonte da experiência de consumo, podendo ser consideradas objetos de desejo do sujeito-consumidor. A dimensão histórico-cultural é relegada a segundo plano na realização dos eventos. Por meio desta economia libidinal o capitalismo avança na transformação dos elementos da vida social em mercadorias/objetos de desejo, perpetuando a lógica de mercado capitalista.
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