Revista de Psicologia, Fortaleza, v.14, e023021. jan./dez. 2023

DOI: 10.36517/revpsiufc.14.2023.21

 

RECEBIDO EM: 02/05/2023

PRIMEIRA DECISÃO EDITORIAL: 07/07/2023

VERSÃO FINAL: 07/07/2023

APROVADO EM: 28/07/2023

 

 

Prostituição masculina – revisão integrativa

Male prostitution - integrative review

 

 

DANIEL CERDEIRA DE SOUZA

Professor Adjunto da Universidade Federal do Amazonas. Doutor em Psicologia na área de concentração Psicologia Social e Cultura pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: danielcerdeira@ufam.edu.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2446-8244. Endereço para correspondência: Daniel Cerdeira de Souza. Rua Primeiro de Maio, nº, 5. Colônia, Benjamin Constant - AM, 69630-000, Brasil. Telefone: 48 9920353-33; danielcerdeira@ufam.edu.br

 

INGRID MESQUITA RODRIGUES

Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do Pará. E-mail: rodriguesingrid.psi@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9723-8557

 

 

 

Resumo

O objetivo do estudo foi compreender a dinâmica da prostituição masculina. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que teve como universo 25 artigos disponíveis na Biblioteca Virtual de Saúde e Portal Periódicos Capes. Os dados foram analisados via procedimento de análise de conteúdo. Os resultados foram organizados em seis categorias: 1) Homens profissionais do sexo; 2) Demandas relacionadas a saúde; 3) Riscos e violências relacionadas ao trabalho sexual; 4) Sigilo e teatralidade do trabalho sexual masculino; 5) Gênero, masculinidade e valor do ânus; 6) Territórios de prostituição masculina. Foi possível perceber homens são os maiores consumidores dos serviços sexuais masculinos, e que nuances relacionadas a performatividade de masculinidade e o sigilo são essenciais para a realização dos programas. Conclui-se que a prostituição masculina envolve relações de poder baseadas em uma multiplicidade de fatores relacionados a gênero, raça e classe que precisa da atenção de políticas públicas.

Palavras-chave: Prostituição; Masculinidades; Homens que fazem sexo com homens; Garotos de programa.

 

Abstract

The objective of the study was to understand the dynamics of male prostitution. This is an integrative literature review that had as its universe 25 articles available in the Virtual Health Library and Portal Periódicos Capes. Data were analyzed via content analysis procedure. The results were organized into six categories: 1) Male sex workers; 2) Health-related demands; 3) Risks and violence related to sex work; 4) Secrecy and theatricality of male sex work; 5) Gender, masculinity and value of the anus; 6) Territories of male prostitution. It was possible to perceive men are the biggest consumers of male sexual services, and that nuances related to the performativity of masculinity and secrecy are essential for the implementation of the programs. It is concluded that male prostitution involves power relations based on a multitude of factors related to gender, race and class that need public policy attention.

Keywords: Prostitution; Masculinities; Men who have sex with men; Program boys.

 

Introdução

A sexualidade é cercada de significados históricos que a vinculam a necessidade reprodutiva e pensar seu exercício para a comercialização perturba esse sistema de crenças (Belém et al., 2018). É nessa perturbação que se encontra a prostituição. Para o Ministério do Trabalho (Brasil, 2014), a prostituição (ou trabalho sexual) é reconhecida como um fazer profissional que envolve a capacidade de realizar fantasias sexuais, a demonstração de sensualidade, o reconhecimento do potencial do cliente, o cuidado com a higiene pessoal e o sigilo profissional, além de outras características que demandam certo envolvimento emocional com os clientes. Esse fazer é cercado de estigmas e preconceitos que o coloca em um lugar de ambiguidade entre a normalidade e o desvio (Oliveira & Fernandes, 2017). De acordo com Weitzer (2009) a prostituição é compreendida por duas vertentes, uma que a entende de maneira empoderada, como uma atividade laboral qualquer e outra que a considera uma forma de opressão que precisa ser erradicada.

De maneira geral, os estudos sobre a prostituição focam na posição de homens como clientes e mulheres como as trabalhadoras sexuais, de forma que estudos sobre homens trabalhadores do sexo são escassos (Santos & Lago, 2020). Considerando essa questão, o objetivo deste estudo foi compreender a dinâmica da prostituição masculina a partir de uma revisão da literatura publicada no formato de artigos científicos em língua portuguesa, espanhola e inglesa entre 2015-2022. O interesse pelo tema emergiu a partir de reflexões vividas em sala de aula, onde vários esteriótipos sobre a prostituição emergiam, o que impede a compreensão de sua complexidade. Daí a necessidade de se desvelar o que a ciência tem discutido sobre, a fim de, em momento oportuno, retomar esse tema na universidade.

Entendemos as masculinidades situadas em contextos históricos e sociais a partir do conceito de gênero de Butler (2003). A autora explica que o gênero faz as características biológicas pois, mesmo o biológico é socialmente estruturado. Essa estruturação se dá pela performatividade, uma forma de repetição e significados sociais que tem efeito de nos tornar homens ou mulheres e é através dela que os sujeitos se subjetivam e se tornam sujeitos.

De acordo com Kimmel (1998), as masculinidades são significadas em dois campos de relações de poder: nas relações de homens com mulheres (desigualdades de gênero) e nas relações dos homens com outros homens (desigualdades baseadas em marcadores interseccionais, como raça, etnicidade, sexualidade, idade etc.). De acordo com Connell (1995) e Connell e Messerschmidt (2013), existem alguns tipos de masculinidades que se relacionam entre si, esses tipos são: a masculinidade hegemônica, que se baseia-se na ideia de “liderança natural” por parte do homem cisgênero heterossexual branco. A masculinidade subordinada, que diz respeito à dominância e subordinação entre grupos de homens, como é o caso da dominação dos homens heterossexuais e a subordinação dos homens homossexuais. A masculinidade cúmplice se define porque percebe e desfruta de algumas vantagens do patriarcado sem defenderem publicamente esta posição e a masculinidade marginalizada, que se refere a classes ou grupos étnicos dominantes e subordinados; é uma masculinidade que está marginalizada devido à condição subordinada de raça, por exemplo.

De maneira geral, a prostituição é marcada por diversas vulnerabilidades sociais como a exposição a infecções sexualmente transmissíveis (IST’s), violências físicas, psicológicas e sexuais que podem inclusive culminar em mortes tanto de clientes quanto do trabalhador (a) sexual, uso/abuso de álcool e outras drogas (Belém et al., 2018), bem como riscos à saúde mental, além do mais, no dia a dia do trabalho sexual, são comuns chantagens e coerções para a realização de sexo sem o uso de preservativo (Graça & Gonçalves, 2017).

Quanto a homens que se prostituem, esses apresentam vulnerabilidade aumentada para a infecção por HIV (Huang, Zhang, Li & Zhao, 2016; George et al., 2016). É observado que homens negros e pobres tem maiores chances de se envolverem em trabalhos sexuais (Rosen et al., 2022). O consumo de serviços sexuais masculinos é relacionado principalmente ao turismo sexual (Ellison & Weitzer, 2016; López, Jiménez & Venegas, 2015). Ainda é possível perceber que garotos de programa apresentam risco aumentado para se envolver em violência durante o programa realizado, devido a normas de gênero que naturalizam, para homens, o uso da violência na resolução de conflitos (George et al., 2016).

As redes sociais, os aplicativos de relacionamento e as páginas da web expandiram o contexto de oferta de serviços sexuais e para homens, tais redes e aplicativos podem ser essenciais, principalmente para homens que fazem sexo com homens (HSH) que sejam trabalhadores sexuais (Brennan, 2017). Entre HSH trabalhadores do sexo, é relatada o riso aumentado para a utilização de álcool e outras drogas como um fator duplo: como forma de lidar com o estigma da prostituição e como forma de relaxamento para a realização do programa (Wang, Zhao, Xu & Wang, 2022). Dessa forma, a prostituição masculina pode ser um contexto cercado de vulnerabilidades sociais, demandando pesquisas e compreensões que superem os estigmas associados a ela.

 

Metodologia

O estudo consiste em uma revisão integrativa (RI), que trabalhou com dados teóricos e empíricos, seguindo o proposto por Whittemore e Knafl (2005), a partir dos seguintes passos:

1) Identificação do problema: objetivo deste estudo foi compreender a dinâmica da prostituição masculina a partir de uma revisão da literatura publicada no formato de artigos científicos em língua portuguesa, espanhola e inglesa entre 2015-2022.

2) O segundo passo corresponde a coleta dos dados. Os passos da coleta neste estudo iniciaram-se na definição dos descritores de busca, sendo “Prostituição” e “Masculinidades”, validados nos Descritores da Biblioteca Virtual de Saúde (Dec’s BVS) (os descritores foram traduzidos para o inglês e espanhol). Os portais utilizados para coleta fora o Portal Periódicos CAPES e a Biblioteca Virtual de Saúde, escolhidos porque integram diversas bases de dados e proporcionam acesso público aos artigos científicos, além do mais os portais apresenta estudos interdisciplinares, considerando que o tema da revisão pode ser estudado do ponto de vista da saúde e das ciências humanas/sociais. A coleta foi realizada entre os dias 19 e 20 de dezembro de 2022. Os critérios de inclusão adotados foram: Artigos publicados em revistas indexadas revisadas por pares sobre o tema da pesquisa, publicados em língua portuguesa, inglesa e espanhola, entre janeiro de 2015 a novembro de 2022. Como critérios de exclusão, removemos outras formas de publicação (artigos de jornal, artigos de anais de eventos, artigos de jornais e outros veículos midiáticos não científicos, livros, dissertações, tese, editoriais, resenhas e afins).

No Portal Periódicos Capes, com a aplicação dos descritores em língua portuguesa, foram coletados 16 artigos. Com a aplicação dos descritores em língua espanhola, foram coletados 41 resultados e com a aplicação dos descritores em língua inglesa, emergiram 50 resultados, que foram todos coletados. Já na Biblioteca Virtual de Saúde, com a aplicação dos descritores em língua portuguesa, emergiram 21 resultados. Já a aplicação dos descritores espanhola, emergiram 11 resultados e em língua inglesa, emergiram 50 resultados.

3) O terceiro passo correspondeu a avaliação dos dados coletados. Foi realizada a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave dos 189 resultados coletados e nessa etapa, foram excluídos 109 resultados: 11 por não estarem na forma de artigos científicos e 98 por não apontarem para o tema desta revisão. Restaram então, 80 artigos, que foram descritos em uma planilha do Microsoft Excel para a exclusão dos artigos repetidos entre os portais, onde foram excluídos 25 artigos.

4) A quarta etapa diz respeito à análise e interpretação dos dados: Para essa etapa, restaram 55 artigos, os quais passaram por leitura completa. Para apoio na leitura, foi elaborado um instrumento, chamado “protocolo de RI”, que nos auxiliou na análise descritiva inicial dos artigos. Este protocolo baseia-se no estudo de Evans e Pearson (2001) e conteve: a pergunta da revisão, os critérios de inclusão e as estratégias de busca, assim descritos: i) a identificação (título do artigo, título da revista em que foi publicado o artigo, área do periódico, base de dados, ano e autores e país da publicação); ii) metodologia do estudo; iii) as principais considerações/resultados e pergunta da pesquisa e iv) um campo para que se justifique caso o estudo seja excluído da amostra final. Após a análise, o revisor deu seu parecer de “selecionado” ou “não selecionado” para cada artigo, seguindo o critério de relevância do estudo. Nessa etapa foram excluídos 30 artigos, por não contemplarem o tema deste estudo.

O universo final desta revisão foi composto por 25 artigos. Quanto a abordagem metodológica, 14 artigos eram pesquisas qualitativas, cinco eram pesquisas quantitativas, dois eram ensaios teóricos, um era uma revisão narrativa da literatura e um outro apresentava abordagem quali-quantitativa. Em relação a língua em que os artigos foram publicados, oito foram publicados em língua portuguesa, 13 em língua inglesa e quatro em língua espanhola. Em relação ao país em que os estudos foram publicados, 11 pesquisas foram publicadas no Brasil, sete nos Estados Unidos, um no Chile, três na Argentina, um no Reino Unido e um na Alemanha. Cinco artigos foram publicados em 2015, três em 2017, seis em 2018, um em 2019, três em 2020, quatro em 2021 e três em 2022 (não encontramos artigos publicados em 2016). As áreas predominantes das revistas em que os estudos foram vinculados foram a Psicologia, a Saúde Coletiva, as Ciências Sociais, o Direito, o Serviço Social e o Turismo, bem como a área interdisciplinar. No quadro 1 é possível observar a caracterização dos artigos selecionados na revisão.

Para analisar os dados extraídos destes, foi utilizado o procedimento de Análise de Conteúdo (AC). Esse procedimento organiza-se em três fases, segundo Bardin (2011): I) Pré-Análise: É a organização de todos os materiais utilizados na coleta dos dados (correspondente à organização e leitura dos artigos no protocolo). II) Exploração do Material: que consiste nas operações de codificação em função das regras que já foram previamente formuladas (após a leitura no protocolo, criou-se as categorias). III) Tratamento dos resultados: É a fase de análise propriamente dita, onde os resultados brutos serão tratados de maneira a serem significativos. A análise possibilitou a organização de seis categorias, discutidas a seguir.

 

Resultados

Homens profissionais do sexo

Dado comum na literatura foi que os homens profissionais do sexo em sua maioria eram jovens e pobres (Plaza, 2015; Yu et al., 2022; Mcneal, 2021; Sanchez, 2021; Mendieta-Izquierdo, 2018; Ellison & Weitzer, 2017; Alecrim et al., 2018). De acordo com Sanchez (2021), homens profissionais do sexo experimentaram a pobreza como denominador comum de vulnerabilidade a prostituição. Passamani, Rosa e Lopes (2020a) explicam que a justificativa mais comum dada para o ingresso na prostituição é a busca por dinheiro e a falta de oportunidades sociais. Isso qualifica a prostituição como o último recurso, uma forma de trabalho indigna, inclusive para homens transexuais (Srivastava et al., 2021). De acordo com Yu et al. (2022), Mcneal (2021) e Lasco (2018), homens profissionais do sexo tendem a ser jovens com baixa escolaridade, apresentando também altas taxas de uso de álcool e outras substâncias, onde muitos jovens se prostituem para conseguir drogas e utilizam substâncias para melhorar seu desempenho nos programas.

Devido à dificuldade de conseguir empregos formais, homens profissionais do sexo adotam estratégias específicas. Uma dessas estratégias é o bricherismo. De acordo com Cáceres, Nureña e Gomero (2015), o bricherismo é uma forma de relacionamento em que homens profissionais do sexo se relacionam com turistas durante a presença desses na cidade. Pelo seu componente de fantasia romântica, essas relações geralmente incluem a possibilidade de um vínculo duradouro que pode significar a saída do país, objetivo que muitos homes jovens que se prostituem possuem, já que a saída do país pode significar uma mudança nas condições de vida do rapaz que se prostitui.

Cabe destacar que Passamani, Rosa e Lopes (2020a) questionam a prostituição masculina como associada a pobreza e falta de oportunidades, visto que em sua pesquisa, a prostituição masculina foi associada a dimensão da escolha, voltada a um planejamento de possibilidades de ganho material e financeiro acima do que se ganharia em profissões tradicionais. De acordo com Ellison (2018), para alguns HSH que realizavam trabalhos sexuais, a principal motivação era a financeira, mas para outros, tinha a ver com explorar e satisfazer desejos e anseios sexuais e estes estavam fazendo o que faziam como uma escolha perfeitamente racional entre a liberdade e a autonomia que acompanham a venda de sexo versus o baixo salário e as más condições de trabalho dos empregos formais.

 

Demandas relacionadas a saúde

Restar et al. (2022) explicam que profissionais do sexo masculinos correm um risco elevado de IST’s e para o sofrimento psicológico. Alecrim et al. (2018) explica que os homens profissionais do sexo enfrentam uma série de marginalizações que criam barreiras de acesso à informação, a métodos e a serviços de saúde de prevenção a IST’s. Isso faz com que tais profissionais resumam suas estratégias de cuidado sexual com a utilização do preservativo para a prevenção do HIV/Aids, mas que ainda assim, o uso da camisinha torna-se um desafio por conta da insistência de clientes (principalmente os clientes masculinos) em sua não utilização, onde eles podem oferecer altas quantias de dinheiro, para a realização do sexo bareback (penetração anal sem preservativo) (Santos, Schor & Lima, 2021).

De forma geral, observa-se que HSH que fazem trabalhos sexuais relatam maior frequência de exposições sexuais de risco para as IST’s quando comparados com os HSH que não são trabalhadores sexuais (Alecrim et al., 2018; Cáceres, Nureña & Gomero, 2015). Yu et al. (2022) explica que a prevalência de HIV entre homens profissionais do sexo foi de 17,8% e o risco sexual não se trata apenas da penetração. Santos, Schor e Lima (2021) explicam que há a percepção, por muitos profissionais do sexo HSH, a de que o sexo oral é isento de riscos de saúde, mas essa questão esconde uma dinâmica de gênero relacionada a negligência da prevenção: os participantes da pesquisa relataram que geralmente não fazem sexo oral em seus clientes e que os clientes é quem praticam sexo oral neles, de maneira que isso preserva uma suposta posição sexual de dominação sobre o cliente, que supostamente é dominado, mesmo que isso não seja garantia de não transmissão de IST’s via sexo oral.

De acordo com Mendieta-Izquierdo (2018), no campo da prostituição masculina, o corpo é o instrumento de trabalho. Diante disso, o corpo precisa apresentar aspectos de masculinidade hegemônica para obter valor de mercado, mas ao mesmo tempo, a percepção é de um corpo da prostituição é sujo e estigmatizado. Essa situação gera uma carga emocional e aumenta a vulnerabilidade a problemas de saúde mental nos trabalhadores sexuais.

Quanto a saúde mental, Alecrim et al. (2018) explica que HSH trabalhadores do sexo podem apresentar uma associação entre ideação suicida com o trabalho sexual, devido ao sentimento de culpa e vergonha e sensações de ter seu corpo violentado, o que pode expressar maior vulnerabilidade dessa população às condutas autodestrutivas como o uso de substâncias. Srivastava et al. (2021) explicou que HSH trabalhadores do sexo transexuais apresentam vulnerabilidades e risco para o sofrimento psíquico relacionado ao trabalho sexual devido a intersecção entre homotransfobia e discriminações de raça e classe durante o exercício laboral.

 

Riscos e violências relacionadas ao trabalho sexual

Monica e Costa (2019) explicam que esfera da prostituição é fortemente marcada por pessoas marginalizadas, o que os distanciam de direitos e os tornam corpos vulneráveis a um amplo conjunto de violações, pois o estigma do trabalho sexual impede que tais profissionais sejam reconhecidos como profissionais de direito (Cáceres, Nureña & Gomero, 2015). Alecrim et al. (2018) explica que os HSH que se prostituem apresentam maior marginalização social quando comparados aos demais HSH. Passamani, Rosa e Lopes (2020a) explicam que a prostituição, em muitas situações, é lida como algo negativo, sujo, a partir de uma leitura higienista de sociedade. De acordo com Mendieta-Izquierdo (2018), a percepção estigmatizada de que a prostituição é uma vida fácil contrasta com a realidade de que homens profissionais do sexo vivenciam diversas vulnerabilidades sociais.

Valente et al. (2020), em uma pesquisa realizada no Quênia, onde a homossexualidade e o trabalho sexual são criminalizados, explica que HSH trabalhadores do sexo, bem como os clientes masculinos que os contratam enfrentam maior vulnerabilidade a violência por parceiro íntimo (VPI). A violência contra HSH trabalhadores sexuais envolveu agressões físicas e sexuais e as violências contra os clientes que os contratavam envolviam roubos, extorsões e outras formas de violências econômicas utilizadas para manter o sigilo do programa realizado, o que demanda constates negociações em relação aos valores do programa. Uma questão nesse ponto é que as violências vivenciadas pouco foram denunciadas a polícia (tanto por clientes como por vítimas), por conta da percepção de que os agentes da lei pouco se importam e pouco estariam disponíveis para intervir nesses casos, além da percepção de que caso denunciassem, as vítimas de VPI do sexo masculino ainda seriam discriminadas pela polícia e seriam presos, visto o contexto de proibição do país.

Restar et al. (2022) explicam que as redes sociais de apoio são fundamentais para a promoção de saúde mental e sexual entre HSH trabalhadores sexuais, mas são frequentemente ameaçadas pela competição por clientes, o que torna difícil que esses profissionais consigam ajuda para suas demandas, mas quando conseguem estabelecer redes de apoio, elas trazem benefícios econômicos, acesso a informações sobre HIV/IST’s e proteção contra a violência de clientes e de agentes da lei.

Outra vulnerabilidade é descrita por Siegel, Sundelson, Meunier e Schrimshaw, (2022). Na pesquisa dos autores, a percepção de homens profissionais do sexo foi de sua profissão é marginalizada e envolve uma série de esteriótipos, como estes sendo portadores de doenças, viciados em drogas, sem auto-respeito, preguiçosos, promíscuos e desesperados, sendo sua atividade vista como uma “saída fácil”, mas dentro da comunidade gay, o trabalho sexual passou a desfrutar de um grau significativo de normalização, visto que de acordo com Kong (2017), a indústria do sexo masculino se desenvolveu em paralelo a comunidade gay. Ainda assim, muitos HSH profissionais do sexo sofrem por se envolver em uma prática estigmatizada, o que faz com que muitos destes mantenham sua atividade laboral em segredo.

 

Sigilo e teatralidade do trabalho sexual masculino

              Hamann, Pizzinato e Rocha (2017) explicam que o contexto do trabalho sexual envolve uma forma de teatralidade que envolve o sigilo e anonimato. É relatado a troca de nomes dos profissionais do sexo a depender do local onde eles estejam, bem como, caso um HSH profissional do sexo encontre seu cliente fora do contexto sexual (na rua, por exemplo), a regra não explícita, mas rigidamente instituída é o de fingir não se conhecer, de modo que as relações de proximidade e comunicacionais ficam restringidas a locais como bares e saunas, bem como há uma recusa de identificar qualquer aspecto de sua vida, enquanto profissional do sexo aos clientes. Algo parecido foi encontrado a pesquisa de Santos, Schor e Lima (2021) onde os HSH profissionais do sexo estabeleceram uma série de condições para que o programa aconteça e dente elas, a organização e delimitação da relação sexual e relação pessoal com o cliente baseada na disponibilidade do mínimo de informações.

              A demanda por sigilo ainda tem outros atravessamentos. De acordo com Monica e Costa (2019), os homens profissionais do sexo podem não ter os mesmos anseios que mulheres prostitutas por direitos trabalhistas, pois o sigilo de sua atividade tende a ser mais valorizado por seus clientes, como ocorrem ao utilizarem sites e aplicativos, portanto o anonimato é o fator fundamental na prostituição masculina. O sigilo tem como função proteger os envolvidos na prostituição masculina, principalmente se estivermos falando de HSH, devido a estigmatização da homossexualidade. O sigilo envolve formas sutis de comunicação e essa prática requer o desenvolvimento de habilidades em um jogo duplo de conhecimento/reconhecimento sutil o suficiente para passar despercebido pelos outros, mas explicito o suficiente para anunciar que um serviço sexual é oferecido ou procurado (Plaza, 2015).

 

Gênero, masculinidade e valor do ânus

De acordo com Santos, Schor e Lima (2021), HSH trabalhadores sexuais criam uma série de barreiras que representam limites corporais em relação aos clientes, como o uso do preservativo, o não beijar na boca e não fazer o papel de passivo (o que é penetrado) na relação sexual, o que teria como função a proteção da masculinidade do profissional do sexo.

Mendonza (2015) explica que existe o medo da velhice e da degradação física entre homens profissionais do sexo, onde sujeitos com mais de 25 anos se declaram ‘velhos’ e que muitos clientes que procuram serviços sexuais procuram sujeitos ‘exóticos’ e isso está associado a raça, etnia e cor da pele (Kong, 2017). De acordo com Smith (2015), homens profissionais do sexo vivenciam conflitos morais em relação ao número de parceiros sexuais em seu trabalho, bem como seus valores se conflitam com a necessidade de fazer sexo por dinheiro. Para dar conta do trabalho, esses profissionais precisam gerenciar suas emoções e reações em resposta aos programas, pois muitos clientes não desejam contato sexual, mas sim apoio emocional.

De acordo com Kong (2017), o trabalho sexual masculino dominante é a prostituição homossexual, o que torna a comercialização do sexo entre homens um fenômeno que diz respeito mais sobre sobrevivência e autodesenvolvimento, enquanto para as mulheres é mais sobre o sustento de sua família imediata. De acordo com Lasco (2018), para que consigam realizar o trabalho sexual sem maiores danos, homens precisam se prostituir sem a percepção de perda de masculinidade, pois ao aceitar a noção de que sua masculinidade não é diminuída, homens podem justificar sua decisão de continuar com o trabalho sexual utilizando partes do corpo estigmatizadas socialmente e uma dessas partes é o ânus.

De acordo com Souza Neto e Rios (2015) no mercado sexual entre HSH, o ânus surge como símbolo maior da masculinidade no mercado do sexo. A partir de seu uso como mercadoria, diversificam-se as posições identitárias: boys ativos, que nunca disponibilizam o ânus para a penetração, os boys bicha, que facilmente disponibilizam o ânus para penetração e boys flex (ou versáteis), que negociam seu preço. Mas, a penetração anal como fonte de prazer desonra o homem, por se tornar símbolo de poder e subjugação nas relações que se estabelecem no mercado do sexo. A complexidade entre os três personagens aqui citados envolve o uso ou não uso da penetração do ânus aliado a questões de gênero como referência para constituí-los e diferenciá-los em performatividade associada ao masculino e ao feminino, e tem algumas camadas: se os boys bicha facilmente cedem o ânus para penetração, seu valor de mercado torna-se baixo, já que a penetração anal desonraria homens, por sua vez, o ânus dos boys ativos torna-se uma zona desejada para clientes homens que sentem prazer penetrando, o que pode tornar essa região a chave para a prosperidade para o boy ativo, e não propriamente o pênis e isso ainda sugere uma dinâmica de gênero onde o boy ativo é dominado por outro boy ativo, que nesse caso, é o cliente que exerce poder financeiro. De toda forma, para os boys ativos, manter o ânus impenetrável funciona além de uma forma de manter sua masculinidade, mas uma forma de valorizar financeiramente essa região. Por fim, quem mais se beneficia em relação a dinâmica da penetração anal são os boys flex, que podem negociar o valor de seu ânus a depender do quanto sua performatividade de gênero se aproxima da masculinidade hegemônica tradicional.

Ainda se observa que de acordo com Hamann, Pizzinato e Rocha (2017) a dinâmica das relações entre HSH profissionais do sexo e seus clientes homens denota uma relação de poder na qual o cliente parece deter uma posição de privilégio sobre a negociação, onde o poder de classe dos clientes dá embasamento para que esses feminilizem os boys ativos, penetrando-os.

 

Territórios de prostituição masculina

De acordo com Castellanos e Salas (2018), mesmo o trabalho sexual masculino se adaptando aos contextos sociais e históricos, o exercício desta forma de comercialização sexual se limita a lugares específicos e à clandestinidade. Júnior, Amaral e Barbosa (2018) observaram a existência de “territórios de prostituição masculina”. A estipulação desses territórios ocorre de maneira informal e cotidiana, tornando-se referência para a compra e venda de serviços sexuais nas cidades. A noção de território é expandida para além do espaço geográfico e urbano em si, de modo que jornais, sites e aplicativos também se tornaram territórios onde a compra/venda de sexo pode ser realizada.

De acordo com Passamani, Rosa e Lopes (2020b), muitos homens se deslocam para locais periféricos longe do centro da cidade (ou mesmo o contrário) para se prostituir e esse deslocamento pode ocorrer, entre outros fatores, para não macular sua imagem entre os que compõem sua rede de relacionamentos interpessoais, o mesmo foi percebido na pesquisa de Ellison e Weitzer (2017). Há ainda que se perceber que o território da prostituição pode ser o interior dos carros, o que supostamente garante mais segurança e controle por parte dos clientes.

Passamani, Rosa e Lopes (2020b) explicam que mesmo a prostituição masculina estando viva e atuante nas praças, nos becos, nas ruas escuras do centro da cidade, as experiências envolvendo o trabalho sexual masculino têm sofrido um processo de reconfiguração que vão desde os locais onde ela tem sido oferecida com maior proeminência: outrora as ruas; hoje saunas, clubes, aplicativos, sites, jornais até a diversidade de serviços oferecidos, segundo as mais variadas demandas dos clientes. De acordo com Castellanos e Salas (2018), os dispositivos móveis, redes virtuais e páginas web revolucionaram os meios de comunicação e o âmbito da comercialização sexual masculina, posicionando-se como ferramenta e estratégias de gerar maior capacidade em termos de alcance e cobertura de clientes.

 

Discussão

A literatura apontou o corpo masculino como o principal instrumento de trabalho no contexto da prostituição e isso possui alguns atravessamentos. A partir da performatividade postulado por Butler (2003), no campo das masculinidades, essa repetição intencional envolve aspectos corporais, como a tonificação muscular, a voz, comportamentos e trejeitos, dentre outros, que fazem os homens serem lidos como viris ou não. No campo da prostituição masculina, a virilidade torna-se um aspecto essencial para a atração de clientes, negociação de valores e realização dos programas. O encontrado nesse aspecto aponta para a masculinidade hegemônica descrita por Connell (1995) e Connell e Messerschmidt (2013). Dessa maneira, quanto mais próximo a performatividade de gênero do homem profissional do sexo estiver da masculinidade hegemônica, mais sucesso na carreira da prostituição ele pode ter.

Ainda foi possível observar que a performatividade de gênero é atrelada a outras características como raça e etnia. Quando Mendonza (2015) explica que clientes buscam homens profissionais do sexo exóticos, podemos refletir como o racismo opera nesse segmento. De acordo com Souza (2022), o racismo atinge homens negros de diversas maneiras e uma delas envolve a hipersexualização de seus corpos pelo mito do homem negro animalizado, hiper erótico e ‘bom de cama’ devido a ter o pênis maior que a média.

Quando Passamani, Rosa e Lopes (2020a) discutem a vulnerabilidade de homens negros a prostituição, como estes sendo os principais garotos de programa encontrados na pesquisa, surge o questionamento de como o mito do homem negro hipersexualizado opera nesse aspecto, mas há também o reconhecimento de que esse mito é apenas um aspecto que opera interseccionado com demandas de classe, pois na revisão, ainda que a prostituição tenha, em algum nível, sido associada a dimensão da escolha, ela foi amplamente relacionada a pobreza. Dessa maneira, podemos observar a interseccionalidade entre esteriótipos de gênero e raça (com o mito do homem negro exótico hipersexualizado e animalizado com um suposto “pênis avantajado” capaz de satisfazer todos os seus desejos sexuais) com questões de classe.

Foi possível observar ainda que o principal campo de prostituição masculina é a prostituição homossexual, onde homens atendem outros homens em uma forma de teatralidade e sigilo. De maneira geral, não foi possível ter muita clareza da orientação sexual de muitos homens trabalhadores do sexo, o que vai de encontro a necessidade de disponibilizar o mínimo de informações sobre si durante o programa, de forma que o principal motivador no trabalho foi o dinheiro e demais ganhos materiais. Observamos então, os chamados “gays for pay”, ou seja, HSH que não necessariamente são homossexuais e realizam trabalhos sexuais com outros homens por dinheiro.

A prostituição masculina se encontra diante de dois aspectos discriminatórios: o primeiro é a própria prostituição como atividade estigmatizada e o segundo ponto é a estigmatização da relação homossexual. A necessidade do sigilo aparece para proteger tanto o profissional do sexo quanto o cliente da dupla discriminação. Podemos compreender essa questão a partir do conceito de estresse de minorias. De acordo com Meyer (2003), esse movimento diz respeito ao excesso de estresse ao qual indivíduos de categorias sociais estigmatizadas são expostos como resultado de sua posição minoritária. Portanto, a dupla discriminação torna o sigilo uma outra característica essencial para a prostituição masculina, visto que muitos clientes podem ter relações hetero ou homossexuais fora do contexto da prostituição.

 Ainda dentro do contexto da prostituição homossexual, a revisão nos possibilitou a observância de diversas formas de relações de poder entre esses homens e seus clientes. Por exemplo, se por um lado, garotos de programa elencam uma série de condições para que o programa seja realizado como forma de proteção da masculinidade, por outro lado, observamos que os clientes exercem poder de classe em relação ao pagamento do programa. Esse achado nos faz refletir sobre como a prostituição masculina funciona como uma relação de poder disciplinar. De acordo com Foucault (2014), com o advento do capitalismo, a sociedade passou a se organizar de maneira a exercer poder sobre os corpos de maneira a discipliná-los através de diversos mecanismos que operam diretamente na subjetividade das pessoas, a ponto de puni-los em caso de indisciplina e isso tem o objetivo de tornar os corpos dóceis e produtivos economicamente. Dessa maneira, o poder se transformou em micro poder e foi dissipado na sociedade ao ponto de se entender que qualquer pessoa pode exercê-lo em suas relações sociais.

Assim, sugerimos que a prostituição masculina pode funcionar como relações de micropoder entre clientes e os trabalhadores sexuais, onde um tenta exercer poder sobre o outro em um jogo de interesses que pode resultar inclusive em violências. É possível observar ainda que, no que diz respeito a relações de poder, os dados da revisão corroboram com o que Kimmel (1998), quando o autor explica que as masculinidades são significadas em relações de poder com outros homens baseando-se em características interseccionais. Assim, durante a realização do programa, emergem questões de raça, classe, gênero e outras categorias produtoras de subjetividades que produzem a relação de poder entre os homens envolvidos.

 Ainda no campo das relações de poder, é possível observar que a prostituição exemplifica as masculinidades descritas por Connell (1995) e Connell e Messerschmidt (2013). Observemos a complexidade: se por um lado, um cliente pode se aproximar da masculinidade hegemônica ao exercer poder de classe, por outro lado, esse mesmo cliente se torna uma masculinidade subordinada ao ser penetrado pelo profissional do sexo na relação. Mas, se esse garoto de programa for negro, ele continua em uma posição de masculinidade marginalizada. Dessa forma, observa-se as masculinidades não são fixas e podem ser assumidas simultaneamente no contexto da prostituição masculina. Ademais, os dois sujeitos podem ser representados como homens de masculinidades cúmplices, por conta do sigilo necessário a realização da prostituição.

 

Considerações finais

O objetivo deste estudo foi compreender a dinâmica da prostituição masculina a partir de uma revisão da literatura publicada no formato de artigos científicos em língua portuguesa, espanhola e inglesa entre 2015-2022. Foi observado que a dinâmica da prostituição masculina envolve uma complexidade advinda de fatores de gênero, raça, classe bem como outras categorias identitárias. De maneira geral, ela foi associada a pobreza e em menor representatividade, a dimensão da escolha. A principais vulnerabilidades associadas ao trabalho sexual masculino foram o uso de álcool e drogas, o elevado risco para IST’s e a violência. As redes de apoio dos profissionais do sexo se mostraram como limitadas e aliado ao estigma da profissão, vulnerabiliza tais profissionais ao sofrimento psíquico. O campo de maior atuação da prostituição masculina foi a homossexual, o que requer uma série de estratégias dos profissionais e clientes para a realização do programa, com especial atenção ao sigilo. Observamos a existência de ‘territórios de prostituição’, como locais nas zonas urbanas onde se poderia encontrar o serviço sexual.

Por fim, as limitações do estudo precisam ser destacadas: não foram observados dados referentes a experiência de pessoas com deficiência na prostituição (tanto como clientes e/ou profissionais do sexo). A experiência de homens transexuais que se prostituem foi relata, porém com dados muito limitados, o que nos impossibilitou de aprofundar as reflexões sobre. Observamos que muitas pesquisas se voltaram a analisar a vulnerabilidade de homens profissionais do sexo ao HIV, mas elas apenas indicaram a vulnerabilidade e não os fatores sociais envolvidos o que deixou uma lacuna de compreensão. Assim, sugerimos pesquisas que abordem a experiência desses sujeitos em profundidade, fugindo de reducionismos e esteriótipos que estigmatizam o trabalho sexual masculino.

 

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