Longa duração, análise (pós-)fílmica e o texto ainda inencontrável. Um estudo de As mil e uma noites (2015) e Canção para um triste mistério (2016)

Autores

  • Lúcia Ramos Monteiro Universidade de São Paulo (ECA-USP)

Palavras-chave:

Filmes de longa duração, Lav Diaz, Miguel Gomes

Resumo

O presente artigo pretende refletir sobre as estratégias para a análise fílmica a partir do enfrentamento com dois filmes de duração superior a 400 minutos: As mil e uma noites (2015), de Miguel Gomes, e Canção para um triste mistério (2016), de Lav Diaz. Filmes de longa duração podem deixar o analista que se propõe a estudá-los em uma posição incômoda, frente a uma série de problemas. Como encontrar tempo para ver, rever, localizar fotogramas, citar, comparar um filme com os anteriores? Como traduzir, pela descrição textual acompanhada da reprodução de alguns fotogramas, a experiência da duração? Mesmo quando é possível exibir um trecho em um colóquio ou incluí-lo no texto, os efeitos de repetição e acumulação que as imagens adquirem ao longo do visionamento completo esvaem-se, atualizando o paradoxo descrito por Bellour (1979). Como o analista pode analisar um e outro filmes?

Biografia do Autor

Lúcia Ramos Monteiro, Universidade de São Paulo (ECA-USP)

Lúcia Ramos Monteiro é pesquisadora em pós-doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com projeto “Narrativas de dissolução. Problemas contemporâneos para o conceito de cinema nacional”, com financiamento da Fapesp. É doutora em cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3 e pela Universidade de São Paulo.

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Publicado

2017-12-22

Como Citar

Monteiro, L. R. (2017). Longa duração, análise (pós-)fílmica e o texto ainda inencontrável. Um estudo de As mil e uma noites (2015) e Canção para um triste mistério (2016). Passagens: Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Comunicação Da Universidade Federal Do Ceará, 8(2), 112–134. Recuperado de http://200.129.40.241/passagens/article/view/30963

Edição

Seção

Dossiê Compós