USO DA INFORMAÇÃO E TECNOLOGIA PARA TRAÇAR O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE
CRIANÇAS PORTADORAS DE HANSENÍASE NO ESTADO DA PARAÍBA UTILIZANDO O
REPOSITÓRIO DATASUS
USE OF INFORMATION AND TECHNOLOGY TO TRACE THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF
CHILDREN WITH LEPROSY IN THE STATE OF PARAÍBA USING THE DATASUS REPOSITORY
Nathalia Barros Meneses
1
Pollianna Marys de Souza e Silva
2
¹ Especialista em Fisioterapia Neonatal e
Pediátrica.
E-mail: nathaliameneses@hotmail.com
2
Doutoranda em Ciência da Informação (UFPB).
E-mail: pollianna_marys@hotmail.com
ACESSO ABERTO
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Internacional.
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que não há conflito de interesses.
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neste artigo.
Recebido em: 30/09/2019
Revisado em: 21/10/2019
Aceito em: 31/10/2019
Como citar este artigo:
MENESES, N. B.; SILVA, P. M. S. Uso da
informação e tecnologia para traçar o perfil
epidemiológico de crianças portadoras de
hanseníase no estado da paraíba utilizando o
Repositório DATASUS. Informação em Pauta,
Fortaleza, v. 5, n. especial, p. 135-148, março
2020. DOI: https://doi.org/10.36517/2525-
3468.ip.v5iespecial1.2020.43517.135-148.
RESUMO
Neste século a informação é considerada de
grande relevância. Os gestores e os técnicos
usando as informações, e eventualmente
fazendo uso de tecnologias de processamento,
podem criar perfis epidemiológicos e subsidiar a
construção de políticas públicas pertinentes
para cada região. A pesquisa objetiva determinar
a situação epidemiológica da hanseníase na
Paraíba em menores de 15 anos, através dos
dados disponíveis no repositório DataSUS. É um
estudo epidemiológico, descritivo e
retrospectivo, de caráter quantitativo, tendo
como população do estudo todos os casos de
hanseníase em crianças com idade igual ou
menor a 15 anos do Estado da Paraíba,
diagnosticados e notificados no SINAN, durante
o período de 2010 a 2015. Foram encontrados
207 casos novos (CN) de hanseníase em
crianças, sendo registradas 6% (13) crianças
com idades de 1 a 4 anos, 34,1% (74) crianças de
5 a 9 anos e 59,9% (130) crianças com idades de
10 a 14 anos. Estes dados comprovam o nível
endêmico da doença no Estado da Paraíba no
período avaliado, deixando clara a necessidade
de buscar ativamente casos suspeitos nos
menores de 15 anos e que os profissionais de
saúde voltem sua atenção a estas faixas etárias,
visando à detecção precoce e oportuna dos
casos.
Palavras-chave: Tecnologia e Informação.
DataSUS. Perfil Epidemiológico. Hanseníase.
Inf. Pauta Fortaleza, CE
v.5 n. especial
março 2020
ISSN 2525-3468
DOI: 10.36517/2525-3468.ip.v5iespecial1.2020.43517.135-148
ARTIGO
Meneses; Silva | Perfil epidemiológico de crianças portadoras de hanseníase no estado da Paraíba
Inf. Pauta, Fortaleza, CE, v. 5, n. especial, mar. 2020 | ISSN 2525-3468
ABSTRACT
In this century the information is considered of
great relevance. Managers and technicians using
information, and eventually making use of
processing technologies, can create
epidemiological profiles and subsidize the
construction of relevant public policies for each
region. The research aims to determine the
epidemiological situation of leprosy in Paraíba in
children less than 15 years of age, through the
data available in the DataSUS repository. This is
a descriptive and retrospective epidemiological
study of quantitative nature, having as
population of the study all cases of leprosy in
children aged 15 years or less in the state of
Paraíba, diagnosed and notified in SINAN, during
the period 2010-2015. We found 207 new cases
(CN) of leprosy in children, with 6% (13)
children´s between the ages of 10 and 14. These
data prove the endemic level of Paraíba in the
period evaluated making clear the need to
actively seek suspected cases in children under
15 years and that health professional turn their
attention to these age groups, for the early and
timely detection of cases.
Keywords: Technology and Information.
DataSUS. Epidemiological Profile. Leprosy.
1 INTRODUÇÃO
Estamos vivendo um século em que a informação é considerada de grande
relevância para a população. Com a descoberta da Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC) o mundo mudou seu olhar para esta nova forma de se fazer ciência
buscando utilizar os dados como forma de produzir informação. Os gestores e os
técnicos usando as informações, e eventualmente fazendo uso de tecnologias de
processamento, podem criar perfis epidemiológicos e subsidiar a construção de políticas
públicas pertinentes para cada região.
Segundo Cunha (2012) a disseminação de informações em saúde no Brasil é
primordial para o conhecimento de políticas e gestão do SUS. As TIC foram mecanismos
desenvolvidos para apoiarem a gestão e planejamento do SUS, ajudando gestores e
profissionais da saúde no desempenho de suas atividades (SOUZA, 2017).
Dentre estas tecnologias na área de saúde, se destaca o Departamento de
Informática do SUS DataSUS, estratégia do setor de tecnologia da informação da área
da saúde onde é evidenciada práticas e saberes, considerada disseminadora de dados do
SUS. O repositório institucional padroniza as informações dos serviços de saúde. A
alimentação dos sistemas de dados gera conhecimento e corroboram para a melhor
gestão dos serviços de saúde (SOUZA, 2017; PINOCHET, 2011).
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, de evolução lenta, causada pelo
bacilo Mycobacterium Leprae, ou bacilo de Hansen, um parasito intracelular que se
instala no organismo do indivíduo através de células cutâneas ou dos nervos periféricos,
multiplicando-se e produzindo incapacidades físicas. É considerada uma doença crônica,
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justamente porque seu tempo de encubação é longo, tendo uma duração de 11 a 16 dias
(BRASIL, 2001), além disso, este tipo de doença causa limitações e incapacidades com
longa ou indefinida duração de prognóstico. As intervenções vêm associadas a
alterações de estilo de vida e um cuidado que deve ser ininterrupto e pode não chegar à
cura (BRASIL, 2013).
A identificação etiológica da hanseníase surgiu apenas no fim do século XIX,
quando ao pesquisar o material das lesões cutâneas de pacientes da época, o norueguês
Gerhard Henrik A. Hansen descobriu o bacilo responsável pela doença, conhecido
atualmente como Bacilo de Hansen (SANTOS; FARIA; MENEZES, 2008). Considerando
sua magnitude, a hanseníase continua sendo um problema de saúde pública. De acordo
com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 143 países em 2016 reportaram 214.783
casos novos da doença, o que representa uma taxa de 2,9 casos por 100 mil habitantes.
No Brasil, que ocupa o segundo lugar com mais casos no mundo, entre 2012 a 2016,
foram detectados 151.764 casos novos, uma média de 14,97/100mil habitantes
(BRASIL, 2018; LOIOLA, 2016).
Todos os casos diagnosticados da doença em questão devem ser notificados no
Sistema de Informações dos Agravos de Notificação Compulsória SINAN, um dos
sistemas de informação responsáveis por alimentar o DataSUS, implantado
gradualmente a partir de 1990. O SINAN foi regulamentado, se tornando obrigatória a
atualização da base de dados nacional em 1998. Este é alimentado pela notificação e
investigação dos agravos da lista nacional de doenças de notificação compulsória,
incluindo problemas específicos de estados e municípios (BRASIL, 2007).
De acordo com o estudo realizado no Brasil pela Secretaria de Vigilância em
Saúde (BRASIL, 2008) foi identificado 10 (dez) clusters (áreas de concentração) com
níveis altos de detecção. A Paraíba faz parte de um desses clusters. A área endêmica mais
significativa é a mesorregião do sertão paraibano, que compreende os municípios de
Itaporanga, Cajazeiras, Serra do Teixeira, Piancó e Catodo Rocha (PENNA; OLIVEIRA;
PENNA, 2009).
O descobrimento de CN na infância relaciona-se com focos de transmissão ativos,
caracterizando uma doença recente, sendo este acompanhamento epidemiológico
importante para o controle da patologia (CÓTICA, 2010). É prioridade da política atual
de controle da Hanseníase detectar e monitorar as taxas da doença, pois é prioridade do
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Programa Nacional de Controle da Hanseníase PNCH a redução de CN em menores de
15 anos (BRASIL, 2009).
Diante do exposto, a doença em questão afeta diretamente a população
produzindo sequelas que comprometem diretamente a qualidade de vida dos pacientes.
Mesmo com as medidas do Estado para a eliminação da doença, vem se observando o
alto índice de CN em menores de 15 anos, indicando uma alta prevalência nesse tipo de
população. Esta persistência no aumento de CN sugere que as crianças diagnosticadas
são contatos diretos de casos que não foram identificados pelo Sistema Único de Saúde
(SUS).
A presente pesquisa foi desenvolvida tendo como objetivo determinar a situação
epidemiológica da hanseníase na Paraíba em menores de 15 anos, através dos dados
disponíveis no repositório DataSUS. Os estudos epidemiológicos estudam o processo
saúde-doença, analisando fatores determinantes e danos à saúde, compreendendo o
processo saúde-doença na sociedade, identificando causas e descrevendo importantes
dados para o planejamento e avaliação de ações de prevenção e controle de doenças
(GUSMÃO; SILVA FILHO, 2015; CARVALHO; PINHO; GARCIA, 2017).
Os indicadores de saúde são então ferramentas por onde a epidemiologia estuda
e monitora aspectos relacionados ao binômio saúde/doença, desta forma é possível
determinar fatores de riscos e agravos na população (GUSMÃO; SILVA FILHO, 2015).
Nesse contexto, os sistemas de informação em saúde são importantes para os gestores e
profissionais, planejando e organizando os serviços e assim podem calcular estes
indicadores que auxiliam no plano de ações e serviços mais focados para cada realidade
das comunidades (BRASIL, 2014).
2 A RELEVÂNCIA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO NA EPIDEMIOLOGIA
Uma das áreas mais promissoras e impactantes para as novas tecnologias é a
saúde, incorporando o termo de Saúde Digital pela OMS. A população é caracterizada
socialmente, localmente e geneticamente, permitindo destacar medidas mais adequadas
para condições específicas (NETTO; GADELHA, 2019). O uso das TIC é considerado
parte efetiva nos processos assistenciais em saúde, principalmente na disseminação das
informações e revolucionando o desenvolvimento científico e tecnológico, facilitando o
processo de trabalho (PISSAIA et al., 2017).
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Carvalho, Pinho, Garcia (2019) atentam para os desafios encontrados nos
sistemas de informação. Os SIS atuam de forma integrada, entretanto, apesar da base de
dados e produção de informação em saúde, essas informações são fragmentadas,
resultado das várias instituições que atuam na área. Um dos maiores desafios para a
informação é a interoperabilidade, que é a possibilidade de dois ou mais sistemas de
informação se comunicar, além das diferentes linguagens de programação, dificuldades
de conectividade, falta de valorização dos SIS e variação extensa de sistemas existentes
sem integração. A estruturação das informações referentes ao usuário, profissional e o
estabelecimento de saúde podem ser um bom caminho.
Pensando em tais facilidades, é necessário que os profissionais se apropriem das
tecnologias e aprendam a usar adequadamente e de forma eficiente, desenvolvendo
habilidades e competências no mesmo ritmo que a informação chega ao mundo. Mota et
al. (2018) reconhecem que o uso das TIC em saúde e dos sistemas de informação são
ferramentas de comunicação e conhecimento que reduzem barreiras e dificuldades
geográficas e de disseminação de dados e aprendizado, porém, poucos profissionais
utilizam as TIC e não exploram todo seu potencial, limitando suas atividades.
De qualquer forma as TIC estão se inserindo nas atividades do campo da saúde,
contribuindo e melhorando os processos de trabalho no SUS, principalmente nas
estratégias de gestão epidemiológica e avanço tecno científico da saúde e demais
políticas (FARIAS et al., 2017).
3 PERCUSO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo e retrospectivo, de cater
quantitativo, tendo como população do estudo todos os casos de hanseníase em crianças
com idade igual ou menor a 14 anos do Estado da Paraíba, diagnosticados e notificados
no SINAN, um dos sistemas responsáveis por alimentar o repositório de dados Datasus,
durante o período de 2010 a 2015.
Foi realizado com base nos registros de casos de hanseníase procedentes dos 223
municípios do Estado da Paraíba, localizada na região Nordeste do Brasil, com uma
população estimada de 3.999.415 de acordo com o IBGE (2016). Em conjunto com os
estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará, formam um Cluster, ou seja, área
com uma grande concentração de casos de pacientes com a doença.
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O objetivo do sistema é registrar os dados de agravos de notificação em todo o
país, analisando o perfil de morbidade, auxiliando decisões em nível municipal, estadual
e federal. Foi implantado no território nacional entre 1990 a 1993 (IBGE, 2017). Foram
encontrados 217 casos novos durante esse período, que é o número da amostra. Para
evitar informações incompletas, foi preferido trabalhar com as informações disponíveis
até 2015, último ano cujos dados estão completos no SINAN.
A coleta de dados foi realizada através da busca de CN com idades de 0 a 14 anos,
diagnosticados com a doença, no período de 2010 a 2015. A idade de 15 anos não foi
contemplada visto que no site do DataSUS esses ficam registrados na faixa etária de 15 a
19 anos, idade maior que o objetivo da pesquisa, descaracterizando a idade proposta
pelo estudo.
A coleta foi realizada por partes, colocando cada variável no sistema, coletando os
resultados obtidos e assim transformados nas tabelas expostas no estudo. Os CN foram
distribuídos de acordo com a idade, sexo, lesões cutâneas, formas clínicas, formas
operacionais, regiões de saúde, nervos afetados e avaliação diagnóstica e na cura.
A análise dos dados foi realizada através de estatística descritiva simples
(frequência e porcentagem) a partir das tabelas fornecidas pelo DataSUS, onde os
resultados foram expostos em novas tabelas criadas pelo programa Microsoft Office
Excel, versão 2010. Após a análise estatística, os dados foram comparados com a base
literária existente sobre o assunto.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da pesquisa permitiram delinear o perfil clínico epidemiológico da
hanseníase no Estado da Paraíba durante o período proposto.
Na Tabela 01 estão distribuídos os 207 CN da doença em crianças nos anos de
2010 a 2015, sendo que a maioria dos casos é do sexo masculino com a porcentagem de
52,5%. Sobre a idade, foram registradas 6% crianças com idades de 1 a 4 anos, 34,1%
crianças com idades de 5 a 9 anos e 59,9% crianças com idades de 10 a 14 anos. Não
registros de crianças menores de 1 ano com a doença durante o período da pesquisa.
A detecção de casos novos em crianças tem importância epidemiológica, pois
mostra exposição precoce e insistência na transmissão da doença em questão. Segundo o
estudo de Cótica (2010) não existem muitas diferenças quando a prevalência do sexo
masculino e/ou feminino. Entretanto, observa-se em alguns estudos um percentual
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discretamente maior no sexo masculino (IMBIRIBA et al., 2008). Corroborando com a
amostra do estudo, que houve um pequeno aumento nos dados do sexo masculino
(52,5%).
A cada ano no Brasil são detectados 47.000 casos novos, 8% deles em menores de
15 anos. Com o aumento de casos em crianças, esse grupo está cada vez mais suscetível a
desenvolver a hanseníase do que os adultos, justamente pela imaturidade relativa do
sistema imunológico, do contato direto e prolongado com o foco de infecção domiciliar.
Diante disso é observado que a faixa etária acima dos 10 anos é o mais afetado por causa
do longo período de incubação (SANTINO et al., 2011). Concordando com o estudo de
Imbiriba et al. (2008), estudo cuja maioria das crianças da amostra pertenciam a faixa
etária dos 10 a 14 anos.
Tabela 1 Distribuição dos CN de Hanseníase em Menores de 15 anos de Acordo com o Sexo e a Faixa
Etária, Paraíba, 2010-2015.
SEXO
N
%
Masculino
114
47,5
Feminino
103
52,5
FAIXA ETÁRIA
1 4 anos
13
06
5 - 7 anos
74
34,1
10 - 14 anos
130
59,9
TOTAL
217
100
Fonte: DataSUS/2019.
Em relação à classificação operacional da doença nas crianças, se destaca os casos
PB com 67%, enquanto 33% dos CN são MB (Gráfico 01).
Neste estudo o resultado predominante foi à forma PB com 67% dos CN,
corroborando com os resultados do estudo de Luna, Moura e Vieira (2013). Segundo os
autores esse resultado é comum devido ao período de incubação da doença, além das
crianças ser uma parcela da população mais resistentes ao bacilo. As formas que não
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causam contágio são mais comuns em crianças, porém em formas endêmicas também
são detectadas crianças MB (LANA et al., 2007; LOIOLA, 2016).
A classificação operacional é baseada no número de lesões cutâneas, onde
normalmente são classificados em PB indivíduos com até 05 (cinco) lesões de pele, além
de apresentarem baciloscopia negativa (BANDEIRA, 2009). Pacientes com mais de 05
(cinco) lesões cutâneas e presença de bacilos no rapado da linfa são considerados
multibacilares (TOMASELLI, 2014).
A classificação PB é dividida na forma Indeterminada, que se caracteriza por
manchas hipocrômicas com alterações de sensibilidade, e na forma Tuberculóide, que
apresenta placas em menor número, com formas e tamanhos diferentes, alteração de
sensibilidade e comprometimento de troncos nervosos, além de caracterizar a
Hanseníase Nodular Infantil (BRASIL, 2001; OPROMOLLA; URA, 2002).
A classificação MB constitui as formas Virchowiana, que dissemina várias lesões
de pele, acomete nervos e órgãos, e a Dimorfa, que oscila entre as características da
Tuberculóide com a Virchowiana. O comprometimento neurológico é capaz de
desenvolver incapacidades e deformidades físicas (BRASIL, 2001).
Gráfico 01 Distribuição dos CN de Hanseníase em Menores de 15 anos de Acordo com a Classificação
Operacional, Paraíba, 2010-2015.
Fonte: DataSUS/2019.
Os nervos afetados podem provocar alterações de sensibilidade térmica, dolorosa
e tátil, perda da função motora e outros acometimentos, que pode demorar algum tempo
para se manifestarem (GUIMARÃES, 2013). Segundo Garbino, Heise, Marques Junior
(2016) os nervos periféricos podem estar comprometidos em qualquer forma da
hanseníase, nas formas paucibacilares são acometidos poucos nervos, nas formas
multibacilares, onde tem ampla disseminação dos bacilos, acontece o comprometimento
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de muitos nervos. Demora em média 5 anos, ou até mais, para as manifestações
acontecerem. Os nervos progridem lentamente devido ao tempo de incubação (PIAUÍ;
LUZ, 2009).
Os dados apresentados discordam dos resultados da pesquisa, visto que em sua
maioria, 69% dos nervos afetados, aconteceram em crianças de 1 a 4 anos, onde não se
tem tanto tempo para a doença se desenvolver, mais uma vez chamando a atenção para
a endemicidade da hanseníase (Tabela 02).
Tabela 2 Distribuição dos CN de Hanseníase de Acordo com o Número de Nervos Afetados por Sexo e
Faixa Etária, Paraíba, 2010-2015.
Nº DE NERVOS AFETADOS
Faixa Etária
Masculino
Feminino
TOTAL
%
1 a 4 anos
44
19
63
69
5 a 9 anos
3
1
4
4
10 a 14 anos
17
7
24
26
Total
91
100
Fonte: DataSUS/2019.
Podemos analisar a partir da tabela 03 a avaliação do grau de incapacidade física
por ocasião do diagnóstico. 80,6% das crianças com os dados no sistema não
apresentaram nenhum grau de desenvolvimento e 11,1% das crianças desenvolveram
grau I, seguido de 6% que não foram avaliados e 2,3% pacientes que tem o grau III. Já na
análise do grau de incapacidade no momento da cura, 88,5% dos pacientes pediátricos
registrados não apresentaram grau nenhum, seguidos de 6% que não chegaram a ser
avaliados. 3,2% apresentaram grau I e por fim, 2,3% das crianças registradas
apresentaram grau II.
Lana et al. (2007) relatam em seu estudo veis de detecção altos para menores
de 15 anos com Hanseníase, analisando um percentual elevado para casos novos
diagnosticados com graus de incapacidade física, o que indica alta transmissão da
doença, demonstrando o contato precoce entra a população e o bacilo. Isso reflete na
passividade dos serviços de saúde, que estão verificando os pacientes que vão atrás
do serviço, já com consequências graves da doença.
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No estudo de Cótica (2010) a quantidade de pacientes avaliados no momento do
diagnóstico foi mais elevada do que os pacientes avaliados na cura. É importante elencar
a avaliação em relação à incapacidade funcional, principalmente na identificação dos
casos novos e para promover ações que ressaltem os exames na cura, para um
acompanhamento melhor, assim, evitando os diagnósticos tardios.
Tabela 3 - Distribuição dos CN de Hanseníase em Menores de 15 anos de Acordo com a Avaliação do Grau
de Incapacidade Física no Diagnóstico e na Alta por Cura, Paraíba, 2010-2015.
GRAU DE INCAPACIDADE
Avaliação Diagnóstica
N
%
Grau Zero
175
80,6
Grau I
24
11,1
Grau II
5
2,3
Não avaliado
13
6
Total
217
100
Avaliação na Alta por Cura
N
%
Grau Zero
192
88,5
Grau I
7
3,2
Grau II
5
2,3
Não avaliado
13
6,0
Total
217
100
Fonte: DataSUS/2019.
Quando os registros são avaliados corretamente, as formas clínicas da doença
podem ser classificadas em Indeterminada, Tuberculóide, Dimorfa, Virchowiana. Assim,
podendo traçar melhor estratégia de tratamento. Não foi possível obter essa
distribuição, mostrando uma fragilidade no repositório DataSUS. Santos Filho (2012)
relata que esta falta de dados demonstra falha na sistematização da assistência ao
paciente, principalmente por causa dos profissionais médicos, pois estes são
responsáveis pelo diagnóstico da doença e sua classificação. O conhecimento quanto à
forma clínica é muito importante, pois as formas Virchowiana e Dimorfa (MB) são
responsáveis pela transmissão da doença (SENA, 2014).
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5 CONCLUSÃO
O nível epidemiológico da hanseníase no Estado da Paraíba continua alarmante,
constituindo-se um grave problema para o controle da doença pela rede pública de
saúde. A incidência da doença é discretamente mais expressiva em crianças do sexo
masculino e em idades de 10 a 14 anos, confirmando a demora do tempo de incubação,
sendo preocupante este fato já que o desenvolvimento da doença em crianças menores
de 15 anos determina que ainda exista contato direto destas com outros indivíduos
portadores das formas MB.
Os dados da pesquisa comprovam o nível endêmico da doença nessa população,
durante o período pesquisado. Diante disso fica clara a necessidade da implantação da
busca ativa de CN na população menores que 15 anos e de seus contatos
intradomiciliares, para que ocorra a quebra na cadeia de transmissão e o diagnóstico
precoce do grau de incapacidade física.
A detecção da doença em menores de 15 anos ajuda a entender o comportamento
endêmico da doença no Estado pesquisado, e mesmo não sendo uma doença comum na
infância, ocorre possibilidade de morbidades nessa faixa etária, o que acaba
repercutindo no futuro dessa população, com várias consequências físicas e psicológicas.
Com o objetivo de controlar a doença, os responsáveis pelas políticas públicas em
saúde nos estados brasileiros devem observar não os indicadores epidemiológicos e
operacionais, como também pesquisas como estas.
Também é importante salientar a necessidade das tecnologias de saúde e de
como os dados disponibilizados pelo DataSUS foram determinantes para a realização
desta pesquisa, pois além de ter sido possível alcançar o objetivo determinado, pode-se
perceber a necessidade da relevância da inserção dos dados nos sistemas que
contemplam o SUS.
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