Agosto, de Rubem Fonseca: entre o romance histórico e a metaficção historiográfica
Resumo
O romance Agosto, de Rubem Fonseca, reconstitui os eventos ocorridos no fim da era Vargas, no mês de agosto de 1954, retratados pela História oficial. Porém, ao apontar a construção dos diferentes discursos que entram em disputa no momento histórico em questão, ressalta a fragilidade dos conceitos de verdade e da própria noção objetiva de História. Por isso, tendo por base as considerações de Lukács (1966) sobre o romance histórico, e de Hutcheon (1991) acerca da chamada metaficção historiográfica, o principal objetivo deste estudo consiste em situar Agosto entre ambas as definições, ora incorporando elementos definidos por um teórico, ora refletindo elementos elencados pelo outro. A construção das personagens, especialmente do comissário Mattos e de Getúlio Vargas, bem como o realismo praticado por Fonseca, constituem os principais pontos que impedem Agosto de ser considerado uma metaficção historiográfica. Em contrapartida, ao revelar as inconsistências de uma pretensa noção objetiva de História, o romance de Fonseca também não reflete por completo as características do romance histórico definidas por Lukács (1966). Assim sendo, a composição do romance, entremeando elementos do modelo clássico de romance histórico com processos de questionamento, sobretudo da História, atesta, deste modo, a maleabilidade e capacidade de renovação do gênero.