IMAGENS DO EU – MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO EM O RIO E EU, DE LYGIA BOJUNGA
Resumo
Os gêneros memorialísticos têm um espaço de importância na obra de Lygia Bojunga. As obras Livro – um encontro (1988), Feito à mão (1996) e O Rio e eu (1999) são as que ganham destaque nessa perspectiva. Nos textos bonjungueanos, a memória pode ser vista como “lugar de reflexão” que, após ser problematizada, também se estabelece como uma espécie de “metamemória”. Por sua vez, esse caráter metalinguístico é duplamente presente nas obras da escritora: primeiro, no processo de (re)memoração, discutido em termos que perpassam a memória e o esquecimento e, segundo, na ligação entre memória e processo de criação literária. Este trabalho irá centrar-se na obra O Rio e eu, a qual narra seu “caso de amor” com a cidade do Rio de Janeiro. O livro traz uma narrativa memorialística que se funde à narrativa ficcional, a partir do momento em que Lygia Bojunga personifica a cidade maravilhosa, transformando-a em mais um de seus personagens. Assim sendo, a ligação da cidade com seu processo de criação literária, em que a autora já se sente naturalizada, ao estabelecer-se no Rio de Janeiro na segunda infância (desde os oito anos), é um tema já abordado por diversos escritores, mas que Lygia Bojunga consegue realizar com maestria e leveza, elementos do estilo da escritora. Desse modo, este artigo dialoga com a obra Corpos escritos: Graciliano Ramos e Silviano Santiago (1992), de Wander Melo Miranda e outros aportes teóricos no que tange à memória a fim de percebê-la como um “arquivo duplo do eu”, em que esse “eu” se fragmenta em vários. Em consonância com tal ideia, no caso desta obra, nota-se a escrita memorialística como uma maneira do eu se conhecer a partir do outro, já que, à medida que a escritora remonta à sua relação com o Rio de Janeiro, ela vê sua condição humana e desvenda sua proximidade com o processo imaginativo – anterior ou concomitante ao ato de escrever.
Referências
BARTHES, Roland. O Rumor da Língua. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Brasiliense, 1988.
BOJUNGA, Lygia. O Rio e eu. 3. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2010.
____________. Intramuros. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2010.
FOUCALT, Michel. Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. Trad.I. A. D. Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rosseau à Internet. Trad. Jovita Maria Gerheim Noronha, Maria Inês Coimbra Guedes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
MAINGUENEAU, Dominique. “A vida e a obra”. In: O contexto da obra literária.Trad.de Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MIRANDA, Wander Melo. “A ilusão biográfica”. In.:Corpos Escritos: Graciliano Ramos e Silviano Santiago. São Paulo: EdUSP/ Belo Horizonte: EdUFMG, 1992.
SANDRONI, Laura.De Lobato a Bojunga: as reinações renovadas. Rio de Janeiro, Agir, 1987.
SÁNCHEZ, Juan Escámez. Ortega Y Gasset. Trad. e org. José Gabriel Perissé. Coleção Educadores.
SANTOS, Vilson Ribeiro. O homem e sua circunstância: introdução à filosofia de Ortega y Gasset. Revista Eletrônica Metanoia, São João del-Rei, n. 1, p. 61-64, jul. 1998/1999.
ORTEGA Y GASSET, José. Meditações do Quixote. Trad. Gilberto de Mello Kujawski. São Paulo: Livro Ibero-Americano, 1967.
RICOEUR, Paul. A memória, a história e o esquecimento. Trad. Alain François [et al.]. Campinas, SP: UNICAMP, 2007.
______________. Tempo e Narrativa. Trad. de Claudia Berliner São Paulo: Wmfmartinsfontes, 2010. 3v