O aprendizado pelo Manual de pintura e caligrafia
tensões da representação literária
Resumo
Manual de pintura e caligrafia é o segundo romance publicado por José Saramago, em 1977, três décadas após a sua estreia na literatura, com Terra do pecado. Considerando o seu valor transicional e formativo, visto que ele antecede imediatamente a fase madura do autor, iniciada em 1980, pretende-se examinar as tensões da representação literária que o protagonista empreende quando oscila entre a pintura e a escrita, numa tentativa de autoconhecimento e transformação. Será analisada a relação entre literatura, pintura e identidade, com base em estudos sobre o romance de formação, a escrita autobiográfica, o contexto e a teoria da mímese ou representação. Essa base teórica dialoga com o romance a partir da palavra “escrepintor”, com a qual o narrador-personagem se define na tentativa de encontrar o seu estilo, a sua voz, que acredita ser a manifestação da sua verdade. Orienta a discussão a hipótese de que essa obra inaugura uma nova forma da narrativa de Saramago, cuja consolidação se efetivará nos romances seguintes. Conclui-se que o Manual é um romance de transição e de aprendizagem, tanto para o protagonista como para o autor, e contém os temas que o leitor de Saramago encontrará disseminados em toda a sua obra posterior.