Elena Ferrante e a literatura napolitana contemporânea
Resumo
Tendo como ponto de partida a história do romance napolitano do nosso tempo, o artigo se propõe a responder uma pergunta: a qual linha a obra de Elena Ferrante pertence? O autor apresenta duas categorias. A primeira consiste na reprodução dos fatos; a segunda consiste em “transfigurar” as aparências. A reprodução dos fatos está vinculada a uma identidade artificial, que exclui a dor ou a agonia autêntica. A outra vertente, pelo contrário, foca na face incandescente e feroz da vida, mostrando uma Nápoles escura, afogada nas vísceras de bairros precários. As mulheres de Elena Ferrante não têm nada de idealizado, mas são donas de corpos feridos, deformados pela dor e pela fadiga cotidiana. É nesse contexto que, no âmbito da narração, ocorre a representação literária de um fenômeno que a autora define como “desmarginação”, ou seja, o cancelamento de qualquer identidade convencional e socialmente assumida, através do qual emerge uma dimensão pré-social e pré-humana, na qual o indivíduo é pura matéria, repugnante e obscena. Contudo, a forma das palavras, a maneira como a linguagem articula-se oferece uma possível resistência ao mal, à sua explosão repentina e extensa.