“Lembras-te” de “Oitenta e oito”:
Colonialidade do espaço e trânsitos espiralares em dois contos de autoria feminina
Resumo
A modernidade ocidental é geralmente entendida como uma forma de progresso e de vantagens econômicas, sociais e políticas, que, de alguma maneira, se sobrepõe a outros modelos socioculturais, vistos automaticamente como produto do atraso e da ausência de civilização, segundo aponta Maldonado-Torres (2020). Nesse contexto, nosso objetivo é investigar dois contos historiográficos – “Lembras-te?”, de Olinda Beja, e “Oitenta e Oito”, de Eliana Alves Cruz – observando como essas narrativas abordam os seguintes pontos: as práticas coloniais em contextos políticos supostamente descolonizados, nos quais os corpos são atravessados pela colonialidade do espaço; e os trânsitos espiralares como reinvenção do fato histórico linear. Sendo assim, utilizaremos os pressupostos de Castro-Gómez (2003), Césaire (2020), Curiel (2020), Lugones (2020), Maldonado-Torres (2007) Martins (2003), Miranda (2019) e outros. Ademais, constatamos que ambos os contos problematizam as noções de uma hegemonia narrativa nas formações identitárias, epistemológicas e culturais dos países outrora colonizados, as quais foram desestabilizadas face à consciência de outras possibilidades de ser, existir e criar em um mundo multiétnico e marcado pela “diversalidade” (MIGNOLO, 2000; GROSFOGUEL, 2008).