Narrar o (im)possível
a memória reconstruída em A Dor, de Marguerite Duras
Resumo
Este artigo pretende analisar o livro A Dor (1985), de Marguerite Duras (1914-1996), compreendendo sua escrita como um processo de reconstrução de memórias da guerra. No livro, publicado em 1985, mas parcialmente escrito 40 anos antes, Duras constrói uma narrativa do (im)possível, durante a espera de seu marido, Robert Antelme, preso no campo de concentração Buchenwald, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A escrita de Duras coloca em questão a memória da paz, ao final da guerra, essa memória institucionalizada em contraste com uma dor insuportável, não apenas sua, mas de tantas e tantos, que esperavam o regresso dos presos dos campos. Considerando que toda memória é já construção e que todo testemunho é também ficção, buscamos refletir como o texto de Duras pode contribuir para a reconstrução de uma memória do fim da guerra e do período pós-guerra, a partir do testemunho de sua dor. Para nos ajudar na elaboração dessa análise, trabalhamos com algumas teorias, que coadunam com nossa visão acerca dos conceitos memória, narrativa e testemunho, de pensadores como Henri Bergson, Walter Benjamin, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, dentre outros.