Tramando existências
Subjetividade e resistência em "A Mulher dos Pés Descalços", de Scholastique Mukasonga
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar a dinâmica de produção de subjetividades e resistência a partir da narrativa biográfica A mulher de pés descalços (2017), da escritora ruandesa Scholastique Mukasonga. O romance, escrito em memória de Stefania, a mãe da escritora, assassinada pelos hutus durante a guerra civil de Ruanda, é uma história tecida a várias vozes e tem como eixo a evocação das memórias sobre sua infância e das mulheres com que conviveu no contexto do processo de independência de Ruanda e do genocídio que se seguiu. Aqui iremos mobilizar a noção de “escrita-mortalha”, como uma lente a partir da qual podemos ler e compreender a escrita de Mukasonga, partindo da ideia de que a literatura urdida por ela não apenas tem um caráter eminentemente político, já que parte do gesto de denunciar os horrores e efeitos do colonialismo sobre a vida daquel@s que figuram nas narrativas oficiais como simples dados estatísticos, mas também cumpre a função de cobrir de dignidade e preservar os vestígios dos corpos e vidas d@s que não sobreviveram para falar em seu próprio nome. Assim, nos interessa, sobretudo, refletir sobre as experiências e vivências das mulheres em meio ao processo de colonização e resistência cotidiana presentes no romance, apontando para a possibilidade de construção de outras narrativas possíveis em África.