Os sentidos em palavras: composição do imaginário e sensorial da personagem Beatriz de A tradutora
Resumo
A estrutura de A tradutora, romance de Cristovão Tezza, é fragmentada encenando a forma como a mente da protagonista Beatriz (des)organiza os pensamentos, sensações e acontecimentos cotidianos. O mundo ficcional apresenta-se de forma caótica exigindo que Beatriz traduza signos diversos, para além da profissão de tradutora, interpretando gestos, entonações e sotaques, textos eruditos e produtos da cultura de massa. Sob o olhar da tradutora, como eixo central da narrativa, os demais personagens vão sendo revelados. Para além dessas questões, a protagonista se identifica, envolvendo-se emocionalmente com personagens e situações que ela “viu” em prosas literárias, séries e filmes. Assim, buscamos analisar o aspecto imagético, sensorial e de encenação, assim como as referências cinematográficas que emergem do discurso romanesco de A tradutora, a partir do repertório de recepção e imaginário de Beatriz. Com esse intuito, recorremos a estudiosos que teorizam conceitos relacionados à personagem, imaginação e imagem: Antônio Cândido, Gaston Bachelard, Jacques Aumont e Jean-Paul Sartre.
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