CALL FOR PAPERS: DOSSIÊ A (IM)PERTINÊNCIA DA POESIA PORTUGUESA DE AGORA (DEPOIS DE 2000 ATÉ O PRESENTE) ABR. - JUN. (2022)

2021-11-04

Para compreendermos alguma da poesia portuguesa das últimas décadas, invocamos um tema mais antigo, com origem na elegia de Hölderlin, “Pão e Vinho”, em que o poeta pergunta: “Para quê poetas num tempo de indigência?”. Se Hölderlin anunciava, com inquietação, um mundo de onde os deuses se tinham afastado, na atualidade, a poesia já não tem como pano de fundo o poeta enquanto figura de um absoluto literário e parece fadada a um determinismo da praxis: o lugar cada vez mais reduzido das coleções de poesia nas editoras em comparação com o romance; a falta de leitores; a suspeita de ser uma arte extemporânea num mundo vocacionado para as regras do mercado.

Mas até que ponto estes indícios de amargura fazem ecoar os gestos poéticos mais recentes? Tomando como marco a edição de poesia depois de 2000, verificamos uma proliferação efervescente de poetas e de poéticas que surgem e alimentam novos meios de divulgação, novas editoras e revistas. Para onde caminham estas vozes?  Como ponderar estas inquietações que assombram ao mesmo tempo que procuram legitimar autores e obras? Como pensar as várias poéticas sem cair numa sintomatologia que exige um diagnóstico? Isto é, como situarmo-nos entre crítica e clínica, entre exaustão e exaustividade? Como acreditar na hipótese de resposta, como tentar esboçar um mapa do estado da poesia portuguesa de agora sem capitular num exercício de ilusão e de ideologia?

É difícil tentar responder a estas questões sem ampliar ainda mais as dúvidas. Atrevemo-nos, ainda assim, a propor uma estratégia de pensamento que se organiza à volta de cinco problemáticas: 1) A febre do cânone (legitimação das obras e dos poetas, teoria da recepção), 2) Poesia e técnica (forma /conteúdo, produção/recepção), 3) Política da poesia (público/comum), 4) Poesia e outras artes (poesia e cinema, poesia e pintura, poesia e música, poesia e artes performativas, vídeo-poesia) e 5) Poesia e edição (editoras, revistas, blogues).

 

Golgona Anghel

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL)
Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (IELT/FCSH-UNL)

Ida Alves

Universidade Federal Fluminense

SUBMISSÃO: 15/12/2021 a 15/02/2022

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The (im)pertinence of Portuguese poetry from nowadays

(after the 2000s until present time)

 

In order to understand some Portuguese poetry from later decades, we conjure up an older topic, originated from Hölderlin’s elegy, “Pão e Vinho” (Bread and Wine), in which the poet asks: “What are poets for in times of indigence?”. If Hölderlin had already announced, with concern, a world from where gods would have moved away, in the current days, poetry would not have the poet as a portrait of a literary absolute as a background anymore and would seem fated to a determinism of the praxis: the reduced space of poetry collections in publishers in comparison to novels; the lack of readers; the suspicion of being an extemporary art in a world devoted to the market’s rules.

Yet, to what extent do these evidences of bitterness make the most recent poetic gestures echo? Taking as a milestone the poetry edition after the 2000s, we can verify a bustling proliferation of poets and poetics that come up and feed new means of dissemination, new publishers and magazines. Where are these voices going? How can someone ponder these concerns that haunt as well as try to legitimize authors and works at the same time? How can one think about the many poetics without falling into a symptomatology that demands diagnosis? In other words, how do we place ourselves between critic and clinic, between exhaustion and exhaustiveness? How can one believe in the hypothesis of answer? How does one draft a map of Portuguese poetry from today without falling into an exercise of illusion and ideology?

It is difficult to try to answer these questions without raising the doubts. Even so, we dare to propose a thinking strategy that organizes itself around five issues: 1) the canon fever (legitimation of works and poets, theory of reception), 2) Poetry and technique (form/content, production/reception), 3) Poetry’s politics (public/ordinary), 4) Poetry and other arts (poetry and cinema, poetry and painting, poetry and music, poetry and performing arts, video-poetry) and 5) Poetry and edition (publishers, magazines, blogs).

 

Golgona Anghel

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL)
Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (IELT/FCSH-UNL)

Ida Alves

Universidade Federal Fluminense

Submission: 15/12/2021 a 15/02/2022