HABERMAS VERSUS APEL: ACERCA DA INTERPRETAÇÃO DA UNIVERSALIDADE DO CONTRATO SOCIAL
DOI:
https://doi.org/10.30611/2019n15id43138Palavras-chave:
Rousseau, Habermas, Apel, Contrato SocialResumo
Nosso artigo objetiva debater as interpretações de Jürgen Habermas e de Karl-Otto Apel acerca da possível universalidade presente na obra Do Contrato social, de Rousseau. Segundo Habermas, Rousseau e Kant tentaram articular a união prática e a vontade soberana no conceito de autonomia, de modo que a ideia dos direitos humanos e o princípio da soberania popular se interpretassem mutuamente. Mesmo assim, para Habermas, eles não conseguiram entrelaçar simetricamente os dois conceitos. Kant, de acordo com Habermas, sugeriu um modo de ler a autonomia política que se aproximou mais do liberalismo, ao passo que Rousseau do republicanismo. Habermas defende uma possível universalidade no pensamento de Rousseau, a partir de uma síntese com Kant. Dessa maneira, a autonomia privada e a pública pressupõem-se mutuamente, sem que os direitos humanos possam reivindicar um primado sobre a soberania popular, nem esta última sobre os direitos humanos. Ambos seriam, para Habermas, princípios complementares, e não necessariamente antagônicos entre si. Todavia, Karl-Otto Apel considera a posição de Habermas, de uma síntese entre Kant e Rousseau, passível de sérias críticas. Ele enfatiza que a soberania do Contrato social de Rousseau, como soberania de um estado particular, não pode ser identificada com a concepção de vontade geral. A postura de Rousseau, segundo Apel, nos levaria inevitavelmente ao nacionalismo, e não ao universalismo, como em Kant. Apel considera que há, em Rousseau, um particularismo intrínseco do princípio da soberania popular incompatível com os direitos humanos, enquanto Habermas defende a cooriginalidade entre direitos humanos e soberania popular. Este artigo pretende discutir, portanto, como os dois representantes da chamada Ética do Discurso interpretam o pensamento de Rousseau.
Referências
APEL, O. Dissolução da ética do discurso? In: APEL, O.; OLIVEIRA, M. A.; MOREIRA, L. (Org.). Com Habermas, contra Habermas: direito, discurso e democracia. São Paulo: Landy, 2004, p. 201 321.
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997a.v. I.
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997b. v. II.
HABERMAS, J. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. São Paulo: Littera Mundi, 2001.
HABERMAS, J. A Inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.
OLIVEIRA, J. Do republicanismo à política deliberativa: a condição da democracia em Jean-Jacques Rousseau e Jürgen Habermas. Rev. Humanidades, Fortaleza, v. 27, n. 1, jan./jun. 2012, p.181-195.
OLIVEIRA, J. Entre o liberalismo e o republicanismo: Habermas e a democracia deliberativa. Revista Dialectus, Fortaleza, n.11, ago/dez. 2017, p.280-296.
OLIVEIRA, J. Secularismo e Religião na Democracia Deliberativa de Habermas: da pragmática ao déficit ontológico e metafísico. Porto Alegre/Teresina: Fi/EDUFPI, 2018.
PINTO, M. A Noção de vontade geral e seu papel no pensamento político de Jean-Jacques Rousseau. Cadernos de Ética e Filosofia Política, São Paulo, n. 7, p. 81-97, 2005.
ROUSSEAU, J.-J. Do contrato social. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978a. (Os Pensadores).
ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978b. (Os Pensadores).
ROUSSEAU, J.-J. Emílio ou da educação. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0), que permite o compartilhamento não comercial, sem modificações e com igual licença do trabalho, com o devido reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).